Saiu de casa determinado a deixar-se levar pelo mundo. Pelo menos o pedacinho que o rodeia. Conduziu lentamente, a sentir o caminho debaixo dos pés. A perder-se na beleza das casas com muitos anos, com muitas histórias. Havia descoberto há pouco que as casas falam. E riem e choram e sentem e ouvem e murmuram palavras imperceptíveis (só porque nunca nos demos ao trabalho de tentar percebê-las).
Ao afastar-se da cidade conseguiu ver o céu. Estava lindo aquele céu de fim de tarde em tons laranja. Acabou por descobrir que o céu também fala. Mas não conseguia entendê-lo.
Andava devagar. A lembrar-se que adora conduzir... E que a velocidade dos dias já há muito não o permitia lembrar-se...
Finalmente chegou. Estava contente por reencontrar-se com o seu amigo que, não fora ele, talvez não voltasse a ver. Estacionou o carro a alguns metros do local para se lembrar do prazer de caminhar, que a velocidade dos dias quase o levava a esquecer.
Olhando em volta, o amigo que ainda não chegara, sentou-se calmamente na esplanada, por entre uma água e um café. E um, dois, três cigarros... E o amigo que ainda não chegara... Deixava-se crescer a ansiedade. Já não se lembrava de estar assim, só, num local pouco conhecido, com gente que não sabia quem. Já não sabia como estar. Será que reparam em mim? Perguntam-se o que faço aqui? Se espero uma namorada, uma amante, a minha mãe? Se já nada espero e deixo-me aqui ficar? Será que devo fingir que escrevo uma mensagem? A quem? A ansiedade começava a ferver-lhe...
E só depois se apercebeu do ridículo que estava a ser. Escudar-se no telemóvel pelo medo de enfrentar os outros? A realidade? A falta dela?
Perdia-se em perguntas vagas e assolapadas que se atropelavam sem que tivesse tempo de responder.
Foi interrompido pela chegada do amigo que, não fora ele, talvez não voltasse a ver. Sentiu-se confortado pela interrupção. Sentiu-se salvo! Era bem mais fácil assim...
3 comentários:
E nada se compara ao abraço de um amigo na hora da aflição... e fora dela tb. Amigo, é alguem escolhido por nós, por isso tem de ser especial!
É sempre bom rever um amigo. A situação do telemóvel revi-me nela, muitas vezes quando estou sozinho no café, lá vou eu ao telemóvel só por ir...
Beijo.
Acho que todos nos escudamos em qlqr coisa qd estamos sozinhos num sitio...é desconfortável e parece q as pessoas estão sp a olhar...
Mas é bom qd finalmente chega a pessoa de quem estamos á espera p nos salvar da situação...
Bom fim de semana...o sol está a espreitar...
Beijokas
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