segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Passagens

"Éramos levianos por militância, sobretudo as raparigas. Para acabar de vez com o fúnebre baptismo erótico dos rapazes da nossa geração, que ainda se processava em casas de passe, deitávamo-nos com eles ao fim dessas longas madrugadas em que mudávamos o mundo. Lembro-me de pensar, às vezes, a meio do acto: «Se é isto a liberdade, porque é que me sinto tão triste e contrariada? Porque é que não recuso este hálito de que não gosto? Este corpo flácido e sem beleza?» Mas a voz doutrinal da minha consciência reprimia de imediato estas inclinações individualistas, recordando-me que os feios também têm direito aos prazeres da Terra e que eu não podia ceder aos paradigmas burgueses da comparação, e muito menos aos parâmetros estéticos que tinham estado na origem dos horrores nazis."

Inês Pedrosa in "Nas tuas mãos"
Há determinadas músicas que,

em determinados momentos,

me fazem sentir a levitar.

Entro no carro onde me levas a passear. Achas que preciso, dizes-me tu.
Fumo um cigarro. Olho a paisagem que passa por nós a 90 kms/hora. E preciso, realmente. Mas onde quero não me podes levar.
Tu, conhecendo-me bem, abandonas-me à minha quietude. Sabes-me tão bem os passos... E sabes que não me podes levar a falar. Que só o farei quando quiser.
Fumo mais um cigarro. Como se isso me enchesse o peito de ar puro que me permite começar a falar.
- Sabes o que é a solidão?
- Claro que sei o que é a solidão.
- Achas que sabes? Achas que algum dia o vais descobrir? Se nem eu própria o sei...
E tu, mudo (sabes-me tão bem os passos) deixas-me continuar.
- Sabes o que é a força? É o que me permite levantar quando necessitar. E sabes porquê? Porque a vida nos fortalece e descontrói-nos e quase nos destrói para nos fazer crescer. E neste momento sinto-me tão crescida...
Não me respondes. Porra, como me sabes tão bem os passos. Porque se falasses, nesse momento, sabias que me ias calar. E eu queria fazê-lo por mim.
Fumo um cigarro. Como se isso me ajude a encher o peito de ar. Para conseguir respirar.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

"Amar-se
a
si
próprio
é
o
princípio
de
um
romance
para
toda
a
vida."

Oscar Wilde

O (triste) estado puro das coisas

Desconfio sempre das pessoas que são muito solidárias com os mais desfavorecidos, que quase choram com os males do mundo, que falam destas situações como se estivessem a acontecer a si próprias mas, no entanto, ignoram (e prejudicam) aqueles que consigo lidam diariamente.
Acho que existe uma palavra muito própria para o definir: cinismo, no seu estado mais puro.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Passagens

"A velocidade que domina o mundo não admite fugas à sua lei: as pessoas acasalam-se como quem une capitais para comprar por atacado sapatos de melhor qualidade que lhes permitam ganhar mais depressa as suas corridas individuais. Tu soubeste sempre honrar o nosso compromisso de aceitar o rigor absoluto da minha alma na tua. E isso que, mesmo assim contado, parecerá modernamente tão pouco, porque não é nada moderno, enche ainda de luz a minha vida, e permanecerá nas sombras do céu, para lá da banalidade da minha morte".

Inês Pedrosa in "Nas tuas mãos"

E, uma vez mais, a realidade se sobrepõe ao que almejei que ela fosse. Ah... como se já o não soubesse...
É-me tão fácil acreditar em entregas. Em pessoas, em vidas regadas a partilhas.
E é tão duro. Que a crua realidade se abata sobre o meu colorido jardim. Que cultivei, reguei, plantei com suor e mãos e sementes e terra fresca com sabor molhado.
Porque é que a vida é sempre prosa e não poesia?
Porque é que me sinto ultrajada, enganada, usada?
E porque é que, não obstante, continuo a acreditar?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Como se perde uma óptima oportunidade para estar calado * **

* Ou: Já que muito se tem falado na liberdade de expressão, aqui está um exemplo em que a mesma poderia ser suprimida


** Ou ainda: A entrevista (possível) da revista Sábado a Nuno Serras Pereira, padre franciscano, que afirmou recentemente que a homossexualidade é uma doença


"Conhece algum médico ou cientista qualificado que apoie esta sua tese? É uma doença de que foro? Tem tratamento?
Conheço muitos nos Estados Unidos e na Europa. Por exemplo, o professor Gerard Van Den Aardweg. Este psicólogo e psicanalista defende que a atracção pelo mesmo sexo é um sintoma de uma neurose de complexo de inferioridade. E esta neurose depois de resolvida faz desaparecer a atracção. O tratamento existe, por isso é que os activistas gay se insurgem tanto.
As pessoas não têm culpa e os que são recuperados dizem que sentem uma grande alegria e encontram a verdadeira identidade.

Quando diz que «a comunicação social é dominada por um poderoso lobby gay que se infiltrou também na política e na Igreja» não receia perder qualquer resquício de credibilidade?
É uma coisa comprovada, não há dúvidas sobre isso. Repare, em pouco tempo apareceram três telenovelas que tratam o tema da homossexualidade de forma positiva. Além disso, surgiu o filme norte-americano O Segredo de Brokeback Mountain e a reivindicação do casamento. Eu afirmo isto porque passo a vida a estudar este tema, assim como o da defesa da vida.

Porque rejeita a classificação de homofóbico?
Essa palavra é vazia de conteúdo. É usada para agredir em vez de argumentar e a isso não respondo. Não me deixo intimidar. E não tenho medo de pessoas do meu sexo. Defender o estilo de vida homossexual é destruir a instituição familiar."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

E se, de repente...

És conduzida por um taxista que passa a viagem a falar, com requintes de um humor mórbido-negro, de vários acidentes mortais, com direito a profunda pormenorização?
Resta-te fingir que tens uma crise de tosse para que ele não perceba que não consegues parar de rir!!

(Pelo menos levou-me a momentos quase já esquecidos da juventude, em que essas supostas crises de tosse estavam sempre a acontecer).

Como é que não tive esta ideia fantástica antes?

Tudo bem. Eu sei que este tipo de ideia não é pioneiro. Já um génio a teve antes!! Mas ainda assim, proponho:

Por que não realizar um campeonato de futebol entre os No Name Boys e os Super Dragões?
Ia cá ser cada jogaço!!!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Liguei-te. E ao ouvir o que me havias dito por escrito deixei-me chorar. Primeiro caíram-me contidas a medo. Depois, ah... depois levei-as até às tuas palavras como que para eternizar a pureza do divino. Porque quando as coisas são tão simples assim, o querer tão marcado em nós, como um destino que não está escrito mas que sabemos que vai acontecer (ou estará?), posso apenas degustar, de forma lenta e determinada, a divindade do que me dás a viver.
Obrigada. Muito obrigada.

Infantilidades (*)

Ouço barulhos saídos do quarto onde, supostamente o Pedro, criança irremediavelmente irrequieta, está a dormir. Decido ir ver o que se passa. Silenciosamente aproximo-me da cama.
Ah, concerteza que os ruídos não vieram daqui. Está tão sossegado!! De qualquer forma resolvo confirmar:
- Pedro, estás a dormir?
E, com os olhos angelicamente fechados, recebo como resposta:
- Estou!
Ok, então não tenho nada a dizer...


(*) Ou É por isto também que adoro crianças

Passagens

"Aprendi a fazer amor sozinha a ver e ouvir, do lado de lá da parede, sim, mesmo ao lado do espelho do toucador, em frente à vossa cama. Os meus dedos imitavam no meu corpo o percurso dos dele sobre o teu corpo. Nunca percebera porque é que, no colégio, as freiras vinham certificar-se de que tínhamos as mãos do lado de fora do lençol antes de adormecermos.
Um dia a freira obrigou uma menina a dar-lhe a cheirar as mãos ocultas e a menina levou trinta reguadas e ficou um mês de castigo. Chorava todas as noites, duas camas depois da minha, mas nunca consegui que me contasse qua mal havia nas suas mãos. Só com o vosso amor compreendi. Aprendi a sincronizar os meus desejos e êxtases com os vossos; aprendi até, a certa altura, a provocar-vos, a atrair-vos um para o outro quando tinha vontade de me entregar à divina inconsciência do prazer."


Inês Pedrosa in "Nas tuas mãos"

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Para que não nos esqueçamos...



Melhor foto sobre temas da actualidade:

«Rapaz ajuda o pai a vestir-se», Serra Leoa -

World Press Photo 2006


...Que às vezes, quando nos sentimos miseráveis,
há sempre pessoas em pior situação do que nós...

Para que não nos esqueçamos que,
acima de tudo, somos independentes.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Blogo-mania III

Em vários blogs leio a expressão "blog de gaja". Mas, de facto, não sei realmente o que é que se pretende significar.
É um blog onde se fala de sentimentos? Emoções?
É um blog colorido? (Se sim, o meu é um blog tipicamente de gaja.)
É um blog onde se fala de amizades, amor e ódios, sexo e poesia?
Quais são as reais características que fazem um blog ser conotado com uma mulher?
E se tudo o que referi anteriormente é tido como um sinónimo de um blog de gaja, então não deveriam todos sê-lo? No sentido de o(a) autor(a) sentir a liberdade de escrever sobre tudo o que se sente?
E, consequentemente, não existirão por aí homens que gostariam de ter um blog de gaja, mas não o fazem graças à sua eterna e vincada masculinidade?


Alguém me explica o que é, afinal, um blog de gaja?



Por outro lado, a maioria das vezes sei
perfeitamente onde e porque estou.
E nesses dias apetece-me absorver
toda a boa energia do mundo,
e manifestar-me assim...
Num belo e intenso azul.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Às vezes apetece-me perder-me.
Sem saber muito bem onde
ou porquê...
Às vezes apetece-me
esconder por entre as nuvens.
E deixar-me por lá ficar.
Assim... cinzenta.

Apanho e volto a atirar a batata quente

Regulamento:
"Cada bloguista participante tem de elencar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento".
Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."


Não sei se me diferenciam do comum dos mortais, mas cá vão:


1. Muito raramente uso sapatos. Prefiro as botas no Inverno e as sandálias e chinelos no Verão. Nunca esquecendo, claro, as sempre úteis sapatilhas.


2. Só como sopa se ela for (completamente) passada. Uma "marca" que me ficou (acho) desde bebé. Não consigo comer os legumes se não estiverem ralados, o que é que hei-de fazer?


3. Passo horas a jogar jogos Arcade, ou Puzzles, no telemóvel (que saudades das casas de máquinas onde me perdia na juventude a jogar Tetris, Pang, etc.).


4. Dá-me sempre vontade de fumar um cigarro antes das refeições. Bem que podia esperar um pouquinho, mas sou demasiadamente teimosa para o fazer!!


5. Não gosto de responder a questionários.



E a batata quente vai paraaaa:


- A Elentári
- A Rainha das Cores
- O Bonifaceo
- A Salomé
- A Maria

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006


Continuamos a tratar da casca
Continuamos a moldar a casca
Continuamos a remar de costas
E a provar águas quase mortas
E a viver ruas já pisadas
E a levar pedras já usadas
Num saco meio roto
Num saco meio morto

Tentamos não manchar a casca
Para fazer brilhar a casca
Tentamos não parar de costas
Tentamos não falhar respostas
Que nunca nos vejam de fora!!
É para nós que o mundo adora
Passos de dança no chão
É para nós que os olhos olham.

Fingimos não pensar na casca
Tentamos perdoar a casca
Separamos bem e mal
Quando se inspira o real
E se queima o que é vida
Mais uma hora despida
Onde águas não escorrem
E mágoas não morrem

Para quê tirar retratos?
Para quê limpar os fatos?
Para caber na moldura
Não ligar à ruptura
Mandar calar o pó
Deixar ficar o nó
Partir mais uma corda
Expulsar mais uma nódoa

Tentamos disfarçar demónios
Por medo desviamos olhos
Por fuga apagamos fogos
Por escudos renascemos novos
Sem rasto esquecemos lábios
Altivos, rastejamos, sábios
Cada vez mais fundo
No buraco do mundo

Com força agarra-se a casca
Que é só o que nos resta
Que o mastro derreteu
Mais tudo encolheu
Quisemos testar barreiras
E construímos teias
Difíceis de romper
E aqui ficamos presos...na casca.

Casca é tempo que dói
É janela fechada que estilhaça
quando se olha para trás...

Vento é o que bate na cara
É só largar a casca!!
Não se olha para trás!

Toranja


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Ser, não sendo...

Ouço o mar movimentar-se ao ritmo da tempestade. Um novo mar. Desconhecido até agora. Que é sempre o mesmo, mas que também é outro.


Ouço e vejo e sinto novas caras e culturas. Novas pessoas. Que são sempre as mesmas, mas que também são outras.


Ouço e vejo e sinto e respiro novos lugares. Recantos. Que são sempre os mesmos, mas que são outros também.


Ouço e vejo e sinto e respiro e enriqueço com experiências. Que são sempre as mesmas, mas que são também outras...

Se os bloggers adoptassem uma mascote

eu escolhia o Bonifaceo!! :)
"Os escritos são a descendência da alma

assim como as crianças o são do corpo."


Clemente Alexandria

sábado, 4 de fevereiro de 2006

Blogo-mania II

Há pessoas que não entendem porque é que determinados autores de blogs se mantêm no anonimato.
Eu passo a explicar. As minhas razões:
Criei um blog (quase) anónimo pela vontade de escrever. Sobre experiências, banalidades, vivências também. Para partilhar quereres, medos, gostos, emoções.
Acho que tem a ver com o lado voyeurista que se esconde em cada um de nós (aplicado também ao contrário).
E esta sensação de retorno, de resposta, não seria possível se escrevesse só para mim... E é tão positiva, acho, esta forma de comunicação...
Por outro lado, mantenho um blog (quase) "secreto" pela liberdade em que o anonimato me protege. Porque se a minha identidade fosse sabida, não seria tão eu. Seria mais tímida. Estaria mais condicionada. Limitada. Enclausurada pela visita de pessoas que sabem quem eu sou (e não é esse o meu objectivo).
São estas as minhas razões.
Que considero justificadas.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Escrevo porque há coisas tão belas

que devem ficar guardadas para além do coração.

Escrevo porque gosto tanto de ti, amor,

e é tão lindo e compensador e supremo gostar de ti,

que me sinto no direito de, egoísticamente,

dizê-lo a toda a gente.

Mundo meu

É tão bom estar aqui...
Observar, no quentinho da minha casa, a neve fria e linda lá fora...
É tão bom estar aqui...
Imaginar-me, pequenina, parte de um sítio grande, mágico, com neve fria e linda...
É tão bom estar aqui...
No teu sorriso, no teu colo, no teu conforto...
É tão bom...
Acordar, ver o dia, cumprimentar as pessoas, sorrir-lhes, falar-lhes...
É tão bom...
Recordar, reencontrar, descobrir, conhecer...
É tão bom...
É tão MUNDO...
É tão MEU.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Primeira prova de fogo

(a nível profissional)

no ano de 2006:

Superadíssima!!!

(Por muito que isso possa custar a alguém...)