sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Constatações XCV


Um dos grandes problemas de dias como o de hoje é que, quando vou começar a fazer algo a que me predispus, já me esqueci do que ia fazer.

Prontos, está bem então


Foi hoje publicada no Diário da República uma resolução através da qual a Assembleia da República recomenda ao Governo "a adopção de medidas legislativas tendentes à criação da figura do «arrependido» em crimes de especial dificuldade de investigação".
Achei um piadão.

Hoje sinto-me assim...

O dia seguinte


Adoro jantares caseiros imprevistos. Boa companhia, boa comida, bom vinho. Música (sempre a música) a temperar. Conversas confidentes, cumplicidades, banalidades e delírios que terminam em gargalhadas imprudentes. Beatas acumuladas no cinzeiro. Minutos que se transformam em horas. Velas que ardem até ao fim. O único senão? O vinho ser demasiado bom, a conversa demasiado interessante. Ciclo vicioso (os efeitos sentem-se apenas no dia seguinte). Estou com a comummente designada ressaca.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Constatações XCIV


Há conhecidos meus que muito raramente me enviam mails e quando enviam, é só tragédias. Neste momento estou entulhada de mails com fotos da Madeira inundada (que vão todos direitinhos para o lixo sem passarem pela casa da partida). A última vez que me tinham enviado foi quando aconteceu o terramoto no Haiti. E antes, talvez, com as fotos da derrocada em Angra dos Reis. E por aí fora.
Cada vez mais me convenço que as pessoas não resistem a compartilhar as desgraças. 
(Mas só quando acontecem com os outros). 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

WTF?


Segundo a imprensa, o namorado de Rihanna ofereceu à cantora, como presente pelo seu 22º aniversário, a actuação de uma stripper anã.
Como, que não percebi bem? A actuação de uma stripper anã.
Esta gente não sabe o que fazer ao dinheiro, só pode. Ai se namorado meu me oferecesse presente semelhante... Dizia-lhe logo onde ele podia enfiar a stripper em miniatura. 

Nostalgias

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Perguntinha


É de mim ou o Miguel Sousa Tavares levou ontem
 uma coça do Chefe Primeiro-Ministro?

Ser diferente


A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos.



Agostinho da Silva, in "Diário de Alcestes"


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Constatações XCIII


Depois de ontem ver o nível de Aznar, considero os cornichos de Manuel Pinho uma brincadeira de meninos.

Agenda



Quando me apareceste à porta, assim, lavado de chuva e de lágrimas e com aquela ausência de olhar como se não estivesses cá, e me disseste, tão baixinho que as tuas palavras se confundiam com os pingos que se dissolviam no chão, ele morreu, apeteceu-me abraçar-te e embalar-te e aquecer-te com um cobertor e café a ferver.
Ele morreu, repetias tu entre soluços incontidos. E o teu olhar estava morto, tão morto quanto ele, tão escuro quanto o escuro do céu.
Não sabia o que dizer para te apaziguar as emoções. Podia, é certo, dizer meia dúzia de clichés que não deixam, por isso, de ser verdades, do género a vida é assim (e, já agora, a morte também), se calhar ele está melhor agora, encontrou a paz, é a sina de todos nós, etc. e tal. Mas não to disse. Porque se fosse comigo dir-te-ia que tudo isso é verdade mas tudo isso não me faria sentir melhor.
Ao invés, coloquei música. Calma, quase silenciosa, uma presença que não está lá.
Deixei que fechasses os olhos e chorasses a tua dor. Acariciei-te o cabelo numa cumplicidade desafectada. Acompanhei-te nessa viagem de perda e saudade do que nunca aconteceu. Passaram muitos minutos. Tempo roubado ao tempo. Olhaste-me e já encontrei vivalma dentro de ti. Despi-te e coloquei-te dentro de mim. Nesse momento a morte morreu.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Post telegráfico


O Caim já foi.Ponto.Assim num ápice.Ponto.Gostei bastante.Ponto.
Bloqueio com Saramago ultrapassado.Ponto.

O estado actual do país?
Assim a modos que esfrangalhado.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O mundo da moda está mais pobre


Foi hoje encontrado morto, em sua casa, o excêntrico estilista Alexander McQueen. Embora não confirmado, alguns jornais afirmam que o mesmo se enforcou. Triste forma de morrer.

Auto-definição

Curtas


O Paulo Rangel gosta de Metallica. Eu não. Mas simpatizo (ainda) mais um pouquinho com ele por causa disso.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Constatações XCII


Nada como umas compritas para

as irritações me passarem num instantinho.

Implicações


Há um homem que trabalha no mesmo sítio do que eu (não comigo, felizmente) de que não gosto nem um bocadinho. Não me cheira a boa coisa e, por regra, não me engano quando tenho estes feelings.
Ainda por cima é de uma antipatia quase sobrenatural. Sempre que passo por ele digo, com cara sisuda é certo, bom dia ou boa tarde. Muitas vezes, dependendo talvez da sua (in)disposição, sei lá, nem me responde, o que faz disparar consideravelmente o nível de embirração que por ele tão carinhosamente nutro.
Hoje foi a primeira pessoa que tive o infortúnio de encontrar, logo pela manhãzinha e, uma vez mais, não respondeu ao meu cumprimento.
Há dias assim. Em que me apetece bater violentamente em imbecis mal-educados.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Excertos


Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sido consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa do género amo-te, eva. (…)”



José Saramago inCaim

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

À terceira é de vez?


Depois de não conseguir terminar a leitura das duas obras de Saramago que comecei a ler um dia (Memorial do Convento, de 1982, e As Intermitências da Morte, de 2005) prometi-me ser esta a última tentativa de o ler (e eu até estava a gostar muito dos livros, entre o aparvalhada e o deliciada pela forma magistral como o homem escreve, mas chegava a um ponto - uma página para ser mais precisa - relativamente perto do fim, dava-se-me um bloqueio qualquer e nunca mais lhe pegava).
Entreguei-me agora ao contestado Caim (2009) e, do pouco que li, já deu para perceber que é susceptível de provocar AVC’s a quem seja fervorosamente devoto. Eu, ateia me confesso, e fã de humores irónicos e sarcásticos, tenho-me rido com verdadeira vontade.
Confiando conseguir lê-lo até ao fim (pelo menos vontade não me falta) e, espero, divertindo-me tanto quanto até aqui, pode ser desta que ultrapasse o bloqueio.
A ver vamos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


- Deus é gay.
- Não pode ser. Fez todo o universo perfeito. Os oceanos, os céus, as lindas flores, as árvores em toda a parte.
- Está certo. É um decorador.

 


In "Whatever Works", de Woody Allen (2009)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Perguntinha


Haverá coisa mais nojenta do que começar o dia com uma pessoa sentada ao nosso lado a tirar macacos do nariz?

(Na realidade consigo lembrar-me de umas quantas, mas não naquele momento.)

Intromissões


Ouvi ontem o actual ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, que alguém já definiu como o carrasco do Governo - o que, aliás, subscrevo totalmente - afirmar, acerca do “caso Mário Crespo”, que não é possível escrever uma notícia com base na intromissão em conversas alheias.
Uma consulta rápida ao dicionário indica que intromissão significa acto de intrometer, ingerência, introdução. E intrometer significa meter-se de permeio, meter-se onde não se é chamado.
Não me parece, de todo, que se possa acusar Mário Crespo, um jornalista que admiro pela sua frontalidade e insubmissão aos poderes estabelecidos, de intromissão. Afinal, se ele se meteu em alguma coisa, foi num assunto que lhe dizia respeito.
Por outro lado, parece que a conversa entre José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e o “executivo de televisão” (que, sabe-se agora, é Nuno Santos) nada teve de sussurrante, ouvida alto e bom som por quem almoçava nas mesas adjacentes.
O que me leva a pensar que, se calhar, o pretendido era que a conversa chegasse aos ouvidos do visado. E que ele metesse o rabinho entre as pernas e se controlasse.
Felizmente Mário Crespo não é assim.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Hoje sinto-me assim...

As notícias boas apanham-nos como se uma brisa num dia muito quente de Verão se tratasse. Acalmam-nos, rodopiam e deixam-nos com um sorriso esperançoso de que tudo vai correr bem. Melhor do que planeamos. Mais longe do que ousamos sonhar.
Sinto-me tão orgulhosa de ti, amor. Não porque alguma vez duvidasse que fosses capaz (tu sabes bem!) mas porque me contenta que possas ir mais longe, mais fundo e a mais alguém. A muitos alguéns.
Hoje sinto-o como sendo o primeiro dia do resto do nosso ano. E este ano é nosso amor. E é teu. Tão teu e tão meu e tão saborosa e egoisticamente nosso.
Hoje o dia és tu. E agrada-me ver tudo isso no teu olhar.