sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Passagens

"Nova Iorque era um espaço inesgotável, um labirinto de passos intermináveis; mas independentemente da distância que percorresse, independentemente de se ter familiarizado com as vizinhanças e ruas, ficava sempre com a sensação de estar perdido. Perdido, não apenas na cidade, mas também dentro de si. Sempre que dava um passeio, sentia-se como se se deixasse a si próprio para trás e, entregando-se ao movimento das ruas, reduzido a um olho que vê, conseguia escapar à obrigação de pensar, e isto mais do que qualquer outra coisa, trazia-lhe uma certa paz, um salutar vazio interior. O mundo estava no seu exterior, à sua volta, perante si, e a velocidade com que mudava impossibilitava-o de se prender por muito tempo a uma única coisa. O movimento era a essência, o acto de pôr um pé diante do outro e seguir a errância do seu próprio corpo. Ao caminhar sem destino, todos os lugares se tornavam semelhantes deixando de ter importância o sítio onde se encontrava. Nos seus melhores passeios, conseguia atingir o sentimento de que não estava em sítio algum. E isto, afinal, era tudo o que pedira às coisas: não estar em sítio algum. Nova Iorque era esse nenhures que havia construído à sua volta, e apercebeu-se de que não tencionava abandonar aquela cidade, nunca."

Paul Auster in Cidade de Vidro - A trilogia de Nova Iorque

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Da série: Não me canso de homens bonitos (XI)


CANSEI-ME

(pelo menos por agora)

O telemóvel toca. No ecrã vejo quem está a ligar.
- Olá!
- Deixa-me dizer-te uma coisa muito rapidamente e depois não voltamos a falar disso, ok?
- Ok...
- Tenho saudades tuas...
(...)

(Mantivemo-nos à conversa durante uns minutos; não voltamos a falar das saudades que sentimos. Mas esta declaração telegráfica bastou-me. Por vezes é tão simples fazerem-me feliz...)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

"Tudo o que perdemos"

Realização: Susanne Bier

Ano: 2007

Intérpretes: Halle Berry, Benicio Del Toro, David Duchovny

Como se consegue lidar com a morte de alguém que nos é demasiado próximo? Será este, talvez, o mote para este filme que aborda também a dependência da heroína e as várias facetas de cada ser humano.
Benicio Del Toro faz com que cada cena em que aparece se transforme numa pequenina obra-prima.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Constatações LIV

Não consigo disfarçar a irritação que sinto quando sou obrigada a lidar com pessoas eternamente descontentes, do género nunca-nada-está-bem.

domingo, 26 de outubro de 2008

Todos os dias me aventuro por descobertas e diferentes estados de espírito. Deambulo, perco-me às vezes, redescubro-me a cada novo passo.
Apercebo-me que a vida é engraçada, num instante nos troca o certo pelo incerto sem que tenhamos sequer tempo de nos apercebermos. Um acidente de carro, por exemplo, quase a acontecer. No instante imediato antes do choque vês o que vai suceder de seguida; o cérebro adianta-se três ou quatro segundos e antevês que vais bater. Mas, e pareceria impossível, não bato! Desvio o volante completamente, um, dois segundos antes de acontecer?, e o carro continua a patinar. Não sei se vou bater noutro lado qualquer, mas não no sítio que antevi, isso é certo. E de repente ele pára. O carro pára e não bati em nada nem ninguém. As pessoas assomadas às portas, à espera do choque, detêm-se uns segundos e seguem; consigo sentir o seu desapontamento no olhar porque nada de verdadeiramente emocionante aconteceu.
E o certo que era ter batido não o foi. Uma fracção de segundos. Uma fracção de segundos que iria mudar-me o humor, certamente, fazer baixar o saldo bancário (meeddooo), que iria levar-me a proferir um monte de palavrões impronunciáveis a maldizer a minha sorte acabou por não acontecer. Pelo menos da forma como já tinha por certa. Afinal, uma fracção de segundos que terminou com uma serenidade imprópria para o momento e uma sensação de gratidão.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

E porque as boas séries são para se ver

(5ªs. à noite - RTP 1)



Perguntinha

Qual terá sido o momento exacto em que Cristiano Ronaldo passou a Cristiano Rônaldo, que não me apercebi?

O dia depois de hoje

Sem sabermos,
A cidade parou,
Uma noite,
Que afinal não chegou.
E tu como um livro,
No branco das páginas
E eu a ler-te nas lágrimas,
Que a manhã acordou.
Sem sabermos,
Inventámos a dor.
(...)
Sem saberes,
Escrevemos as ruas,
Uma sombra,
Desfazendo-se em duas.
E tu como um filme,
Na vertigem da morte
Eu aqui nesta sorte.

Pedro Abrunhosa in "Luz" (2007)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Hoje sinto-me assim...


(Se pudesse pegava em toda a tua dor

e transferia-a para mim...)

Constatações LIII

As notícias muito más caem como se de bombas se tratassem deixando, à sua volta, um vazio cinzento e frio. Por muito que vivamos, em anos ou experiência, há coisas que jamais estamos preparados para ouvir.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

As mulheres e os sms

Li há dias, já não sei onde, que uma das coisas que distingue homens e mulheres vs telemóveis é a sua relação com os sms's. Diz-se que a maioria dos homens apaga os ditos após leitura e que a maioria das mulheres, ao contrário, os guarda para mais tarde reler.
Não pude deixar de sorrir ao ver a minha figura espelhada naquele pequeno parágrafo. Não sei se somos todas iguais mas arriscaria dizer que devemos ser muito parecidas, especialmente no que toca às sms's enviadas por namorados, apaixonados, amantes, flirts e afins. Então é assim:

1. As mulheres não se contentam em reler as mensagens uma vez. Relemo-las vezes sem conta, por vezes até à exaustão;

2. Quando temos um rol de sms's do mesmo remetente, lemo-las da primeira à última para tentar perceber em que estado vai a relação;

3. Quando nos respondem a um sms que escrevemos (um texto bonito, a merecer uma resposta à altura) ficamos sempre desiludidas com a resposta;

4. As mensagens mais bonitas ou românticas que recebemos passam sempre da Caixa de Entrada para as Mensagens Gravadas. Quando estamos deprimidas vamos espreitá-las para nos sentirmos um bocadinho melhor (normalmente antes de irmos dormir);

5. Tentámos dissecá-las ao pormenor;

6. Quando já temos muitos sms do mesmo remetente, a começar a ocupar espaço indevido, lêmo-los todos novamente para fazermos a triagem dos que podem ser apagados;

7. Se nos dá um ataque de raiva em relação ao autor, apagámos todas as mensagens por ele enviadas (normalmente arrependendo-nos logo de seguida e pensando que pelo menos podíamos ter deixado umazinha!!);

8. Caberia neste ponto outro comportamento-tipo que não me ocorre mas que existe, seguramente.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Da série: Não me canso de homens bonitos (X)



WENTWORTH

MILLER

Adrift in Manhattan

Integrando a selecção oficial do Sundance Film Festival 2007, este filme baseia-se na vida de três personagens, pessoas solitárias em grandes cidades, cujas vidas, por caminhos travessos, se ligam.
Alfredo De Villa, o realizador, proporcionou-me um dos mais bonitos filmes que vi nos últimos tempos, de uma simplicidade sabiamente maravilhosa, em que por vezes não resisti a fechar os olhos para me deter na lindíssima banda sonora.
Imperdível. Mesmo.

Porque é que...

Depois ir às compras ao hiper (ontem parecia o Dia das Famílias de Carrinho), munida com a minha preciosa lista para não me esquecer de nada, mal chego a casa apercebo-me de que me falta algo que não constava da lista?
E porque é que isto me acontece de todas as vezes que vou ao hiper, essa viagem tão maravilhosa ao mundo dos especimens consumistas?