sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Passagens

"Nova Iorque era um espaço inesgotável, um labirinto de passos intermináveis; mas independentemente da distância que percorresse, independentemente de se ter familiarizado com as vizinhanças e ruas, ficava sempre com a sensação de estar perdido. Perdido, não apenas na cidade, mas também dentro de si. Sempre que dava um passeio, sentia-se como se se deixasse a si próprio para trás e, entregando-se ao movimento das ruas, reduzido a um olho que vê, conseguia escapar à obrigação de pensar, e isto mais do que qualquer outra coisa, trazia-lhe uma certa paz, um salutar vazio interior. O mundo estava no seu exterior, à sua volta, perante si, e a velocidade com que mudava impossibilitava-o de se prender por muito tempo a uma única coisa. O movimento era a essência, o acto de pôr um pé diante do outro e seguir a errância do seu próprio corpo. Ao caminhar sem destino, todos os lugares se tornavam semelhantes deixando de ter importância o sítio onde se encontrava. Nos seus melhores passeios, conseguia atingir o sentimento de que não estava em sítio algum. E isto, afinal, era tudo o que pedira às coisas: não estar em sítio algum. Nova Iorque era esse nenhures que havia construído à sua volta, e apercebeu-se de que não tencionava abandonar aquela cidade, nunca."

Paul Auster in Cidade de Vidro - A trilogia de Nova Iorque

4 comentários:

de sousa disse...

já li a Trilogia e fiquei agarrado... agora ando a ler a Música do Acaso, também do Auster, e não consigo largá-lo.

agora vou dar uma volta pelo resto do blog e já volto...

um abraço do gajo "chato"

Anônimo disse...

mui bién!
adorei, adorei, adorei!
só uma pequena sugestão: e que tal uma seccção dedicada a mulheres bonitas? ;)
também tou a trabalhar num blog que tá prestes a arrancar e espero que fique pelo menos à altura do teu...
um abraço e keepupthegoodwork!
ps: num ligues ao link do comment acima que vai dar a um blog muito estranho que criei porque precisava duma foto on-line.

bonifaceo disse...

Não gostei do livro, foi uma tortura acabar de lê-lo porque foi-se tornando cada vez pior à medida que o lia, quer dizer, mais a última parte. Gostos...

Sol disse...

Obrigada Sr. Ex-Chato! :)