Encontraram-se ao final da tarde. Era a hora do dia de que mais gostava. Quando o dia ainda não é noite e a noite já começou.
Entrou no café quase vazio àquela hora. Apenas um casal de idosos a beber chá e um homem, trinta e cinco anos talvez, a ler.
Viu-o na mesa do canto com vista sobre a rua. Engraçado, pensou, aquela seria a mesa que teria escolhido. Nunca gostava de se sentar no centro, onde fosse difícil não ser notada. Gostava de se sentar em mesas discretas, escondidas até.
Aproximou-se devagar, como se isso adiasse aquele momento. Pelo menos gostaria que assim pudesse ser.
- Estás bem? - perguntou-lhe, quando a notou.
- Preferia não estar aqui.
Sorriram um triste sorriso cúmplice.
Falaram de saudades que ainda não existiam mas que eram sentidas já. De momentos perfeitos que só ocorrem quando as pessoas se querem muito. Falaram das birras e amuos. Riam-se agora: como coisas tão graves ou importantes no passado são apenas brisa que corre lá fora. Tentaram suspender aquele momento. Deixá-lo ali, quieto, parado, presente. As horas passaram em minutos.
Quando ela sentiu que não ia durar muito mais olhou-o, bem no fundo dos olhos, e perguntou:
- Tens mesmo de ir?
Ele respondeu que sim. Não precisou falar. Baixou os olhos na mesa e acenou.
- Nunca vamos perder isto, pois não?
- Claro que não! Daqui a uns dias já cá estou - respondeu ele, com uma falsa certeza na voz.
Levantaram-se. Abraçaram-se. Forte. Tão forte...
E ele saíu. Sem olhar para trás.
E ela ficou a observá-lo pelo embaciado da emoção das despedidas. Sabia que nunca mais iria voltar a vê-lo.
O tempo deu-lhe razão...
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