domingo, 22 de fevereiro de 2009

Passagens

"O supervisor tinha aquele penteado em que a progressão da calvície lhe deixou apenas um tufo de cabelo redondo e isolado no cimo da testa. Avaliando por fotografias que um dia tirou da carteira, há pelo menos dez anos que o tufo continua lá. Seria um sinal de bom senso rogar a um deus abstracto que, por misericórdia, lhe levasse aquele tufo ridículo de cabelos. Mas não sei se o supervisor tinha esse sentido prático do mundo, nem sei se esse deus existia. Se não existia, não existia. O que é uma certeza é que o tufo de cabelos continuava lá, como se implorasse: rapem-me, rapem-me, rapem-me."

José Luís Peixoto in :-) e :-( - Hoje não

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