segunda-feira, 17 de abril de 2006

Passagens

"«Repetimos agora a notícia com que iniciámos este jornal: pelas quatro horas da manhã, deflagrou em Lisboa um engenho explosivo de média potência. Estava colocado num automóvel estacionado junto do Ministério da Coesão...»
João Carlos sentou-se na cama.
«... A explosão feriu gravemente o soldado do Corpo Regional de Vigilância, além de quebrar as vidraças de várias janelas...»
Vinha depois o costumado rosário de «depoimentos» inúteis sobre o acontecimento: a velhinha a informar que acordara com o estrondo e dissera à filha: ó Idalina isto é o fim do mundo; o senhor que ia a passar de carro, a quinhentos metros do local e sentira a deslocação do ar e o coração a modos que na boca; outras coisas com o mesmo palpitante interesse. Nenhuma declaração oficial. E a seguir, inevitavelmente, desporto."

João Aguiar in "O jardim das delícias"

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