terça-feira, 18 de abril de 2006

Adeus

Francisca, onde é que ela está?
Não me respondeu. Mas segui o seu olhar vazio de tudo e percebi que estavas no jardim. Corri para ti com muita força, a acreditar que se chegasse muito rápido desistirias de partir.
Estavas ao lado das tuas eternas rosas. A olhar não sei bem o quê. Mas devia ser algo muito importante! Senão porque é que o fazias com tanta determinação?
Porque é que são sempre as rosas as flores preferidas das mulheres da minha vida? Porque não as gardénias, os cravos ou as margaridas?
Cheguei-me ao pé de ti num desassossego tão grande que me mandaste acalmar com as tuas mãos enrugadas de mel. Foi-me difícil não chorar. Mas consegui escondê-la, essa vontade crua, de ti.
Ajoelhei-me e coloquei a cabeça no teu colo. A sentir o afago doce de quem nos quer bem. Olhei-te nos olhos, finalmente (quando a coragem mo permitiu) e segredei-te: Sabes que te amo, não sabes?
Não me respondeste porque, acho, te faltavam as forças. Mas também não foi preciso avó, porque os teus olhos repetiram-me o que tantas e tantas vezes ouvi de ti: Amo-te tanto, minha linda... És o meu sorriso...
Sentei-me ao teu lado. Procurei a tua mão enrugada de mel. E assim ficamos, as duas, a olhar o que só tu vias com tanta determinação...
Não sei quanto tempo passou... até teres fechado os teus olhos.
Estava uma bela tarde de sol...

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo... :)

Obrigada por lembrares as avós, as mãos enrugadas (da cor do nestum como eu dizia ), o perfume das rosas e do pó-de-arroz, o coração de ouro puro!
Diz-me só, por favor, "amo-te", disseste-o?
ou é palavra escrita como muitas que ficam por dizer?
(como as minhas, cuja força um beijo e um abraço não conseguem trasmitir...)

Diz que sim! ;)

bonifaceo disse...

Essa caracterização das mãos enrugadas faz-me lembrar mais a minha bisavó (mãe da minha avó materna), passei algum tempo da minha infância a jogar cartas ou a brincar com o lego com ela ou a ouvir histórias dela.