Tenho com os livros uma relação de amante eternamente insatisfeita, pela satisfação.
A eles me entrego totalmente sem medo de receber. Perco-me no seu corpo, a sorver voluptuosamente o seu saber. Toco-lhes, sinto-os fervorosamente no medo eminente de os perder. Sinto a sua textura, a sua beleza, o seu odor ancestral. Acompanham-me quando exulto de alegria, quando choro por amor, quando grito de raiva ou de horror. Viajam comigo cá dentro. E levam-me a viajar. Enchem-me o espírito de saciedade inquieta e imediata. Que depois volto a perder. Por um novo querer. Transportam-me a sítios novos, a pessoas novas, que julgo já conhecer. Fazem da realidade mentira, da ficção mundo real. Enfim, apoderam-se de mim com um desejo violento a que me entrego. Sem vergonha. Sem pudor.
Um comentário:
Também gosto muito de ler, embora não dedique o tempo que realmente gostaria de dedicar a faze-lo... perco-me muitas vezes com o computador ou a televisão.
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