quarta-feira, 30 de novembro de 2005

E porque hoje faz 70 anos que Pessoa morreu...

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

E ainda falta 1 mês

Ainda é cedo, mas devo confessar que gosto do Natal.
Não do consumismo desenfreado, mas sim das ruas iluminadas. Do cheiro a castanhas. Das pessoas apressadas e curiosas. Do sorriso das crianças. Do antever a lareira acesa no calor da nossa casa. Da troca de lembranças com quem gostamos. Do frio natalício. Dos pinhões. Do vinho doce. Do Pai Natal.
E acho que, basicamente, é por isso. Ponto final.
Gosto do Natal.

segunda-feira, 28 de novembro de 2005

La mala educatión


Homossexuais, travestis. Manipulação.
Padres pedófilos.
Mentiras. Assassinos.
Incertezas. Dependências.
São os principais ingredientes deste filme,
bem ao estilo Almodóvar.
Eu gostei.

sexta-feira, 25 de novembro de 2005



"A dança

é

o corpo

tornado poético."

Ernest Bacon



2005/11/23

9h: Vejo-me sentada numa cadeira das Urgências de um hospital devido a um entorse no pé.

10h20m: Sou atendida por um médico, simpático, é certo, mas um pouquinho louco. E apressado.

10h30m: O Doutor já analisou o meu caso e prescreveu a receita.

11h: Na farmácia, diz-me o farmacêutico: - Oh menina, o Doutor receitou-lhe Valium - 10 mg, meio comprimido quatro vezes ao dia. Mas acho melhor que tome apenas metade antes de dormir porque, caso contrário, vai passar o dia a dormir. Profundamente...

13h: Em conversa com uma amiga, pergunta-me ela quem foi o médico que me aviou (esta expressão mata-me!!!). Foi o Dr. Qualquer Coisa Rodrigues. Carlos Andrade Rodrigues*??!?? Sim, sim, é esse. Mas ele é psiquiatra!!! Psiquiatra??? Deve ter sido por isso que me receitou aquela quantidade de Valiuns!!! Devo ter sido confundida com uma das suas pacientes.

23h30m: Tomo 1/4 de Valium. É melhor jogar pelo seguro e não exagerar.

24h: Dá-me uma sonolência absurda.

24h01m: Apaguei. Boa noite para vocês também.


* Nome fictício. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

terça-feira, 22 de novembro de 2005



Porque é

tão difícil

simplificar?

Fim

Voltei da viagem que fiz a S. Tomé e Príncipe, levada por um barco com o nome de Equador.
Conheci África do início do século passado, sem nunca lá ter estado. Senti-lhe os cheiros, a beleza, a distância.
Vivenciei os meandros da política, hipócrita. Tal como agora, cem anos depois.
Caminhei com o protagonista por entre as suas guerras desiguais. E compreendi-o... tanto e tão bem...
Sofri com os escravos de Portugal. Com a sua dor, com a injustiça. Que continua a viver e a sobreviver.
Chorei no final.
Senti saudades do seu início.
Sorri, não obstante, pela capacidade que os livros têm de nos fazerem ver mais além.
De nos levarem a transcender o corpo numa busca de renovação. De mutação.
Obrigada ao autor.

segunda-feira, 21 de novembro de 2005

"Não há amigos,

apenas há momentos de amizade."

Jules Renard

Neste momento de solidão, quebrado apenas pelo vento que corre lá fora, pergunto-me o que é que a vida me reserva. Se é que me reserva algo. Ou se serei eu que a surpreendo sem que ela, dura e veloz, tenha tempo de reagir.
Questiono tudo. Questiono tanto...
Porque, neste período conturbado, de tão dura luta, não consigo chegar à verdade. Chegar aos porquês. E são os porquês que me movem.
Vivo num presente que anseia por respostas.
Sem me conformar.

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Passagens

"-Eu? Eu não tenho planos de nada. Aprendi a não ter planos de nada. Deixo correr as coisas. Vivo os dias, um de cada vez. Assim há sempre dias tristes e dias felizes. Se planeasse as coisas, e os meus planos não dessem certo, todos os dias seriam tristes."


Miguel Sousa Tavares in Equador

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Acerca do post anterior resta-me acrescentar que...


Não é justo fazer-se este tipo de comparações.
Não subestimem, por favor, a inteligência dos macacos.

Macaquices

Dias normais num país surreal

O principal arguido do processo (de que já não aguento ouvir falar) Casa Pia, Carlos Silvino, vai ser libertado a 25 de Novembro, data em que expira o prazo legal da prisão preventiva (três anos).

Uma constatação: E assim continua o nosso país...

Uma pergunta: Se em Portugal se cometem tantas ilegalidades, porque é que não se acrescenta uma à lista e se deixa o homem por lá mais uns tempos? É que assim ele estaria mais seguro, e seria desnecessário estar a pagar a 3 ou 4 polícias-segurança para o protegerem 24 horas por dia!

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

O meu tributo de hoje vai para...



DAVID BOWIE

Porque a Space Oddity é tão linda

que deveria ser considerada

Património Mundial.


Ground control to Major Tom

Ground control to Major Tom

Take your protein pills and put your helmet on

Ground control to Major Tom

(10, 9, 8, 7)

Commencing countdown, engines on

(6, 5, 4, 3)

Check ignition, and may God's love be with you

(2, 1, lift off)

This is ground control to Major Tom,

You've really made the grade

And the papers want to know whose shirts you wear

Now it's time to leave the capsule if you dare

This is Major Tom to ground control

I'm stepping through the door

And I'm floating in the most peculiar way

And the stars look very different today

For here am I sitting in a tin can

Far above the world

Planet Earth is blue, and there's nothing I can do

Though I'm past 100,000 miles

I'm feeling very still

And I think my spaceship knows which way to go

Tell my wife I love her very much, she knows

Ground control to Major Tom,

Your circuit's dead, there's something wrong

Can you hear me Major Tom?Can you hear me Major Tom?

Can you hear me Major Tom?

Can you...

Here am I floating round my tin can

Far above the moon

Planet Earth is blue, and there's nothing I can do....

"Não existe o esquecimento total:

as pegadas impressas na alma

são indestrutíveis."

Thomas Quincey

terça-feira, 15 de novembro de 2005

Hoje apetecia-me passar a tarde assim...


Enrolada no quentinho de um cobertor,
a admirar a beleza das chamas.
A beber um chá,
por entre páginas de um livro.
A dormitar.
A ter-te ao meu lado,
enroscado em mim.
E mais não digo...

Para a A.

Fiquei surpresa. Depois do baque inicial a que aquela conversa me levou, lentamente fui voltando a ganhar os sentidos. E a pensar, com a clareza possível. Há factos assim. Há pessoas que me conhecem tão bem que me dizem o que eu não toleraria que outro me dissesse. Talvez porque me protejo nesta capa de força. Talvez porque quem está verdadeiramente próximo de mim é parecido comigo. Ou me é muito afim. Tanto, que consegue descobrir o que se passa nesta cabeça. Talvez porque na sua cabeça os sentimentos, experiências, se processem da mesma forma. Talvez porque a sua vida passou por caminhos que agora percorro. Talvez porque o inverso também aconteceu. Mas, passado o choque inicial de ouvir uma constatação do que esteve sempre lá, mas que nunca me tinha apercebido (pelo menos com aquela crueza), o meu espírito encheu-se de paz. De uma paz conturbada, é certo... Mas de uma paz de quem sente que não está só. Que é compreendida, sem que tenha de falar para se fazer mostrar. Para se fazer acompanhar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2005



A beleza

mede-se

em profundidade.

E se estás num bar...

... a dançar, muito, e quando abres a tua carteira que, entretanto,
decidiste ir buscar, vês que o teu namorado te está ligar
para dizer que te ama?
Será que quer dizer algo?

sexta-feira, 11 de novembro de 2005


Se o que tens a dizer não é

mais belo do que o silêncio,

então CALA-TE.

Pitágoras

Páginas soltas

Tenho com os livros uma relação de amante eternamente insatisfeita, pela satisfação.
A eles me entrego totalmente sem medo de receber. Perco-me no seu corpo, a sorver voluptuosamente o seu saber. Toco-lhes, sinto-os fervorosamente no medo eminente de os perder. Sinto a sua textura, a sua beleza, o seu odor ancestral. Acompanham-me quando exulto de alegria, quando choro por amor, quando grito de raiva ou de horror. Viajam comigo cá dentro. E levam-me a viajar. Enchem-me o espírito de saciedade inquieta e imediata. Que depois volto a perder. Por um novo querer. Transportam-me a sítios novos, a pessoas novas, que julgo já conhecer. Fazem da realidade mentira, da ficção mundo real. Enfim, apoderam-se de mim com um desejo violento a que me entrego. Sem vergonha. Sem pudor.


Este blog chegou ao post

100.

quinta-feira, 10 de novembro de 2005


Let's swim to the moon, uh huh
Let's climb through the tide
Penetrate the evenin' that the
City sleeps to hide
Let's swim out tonight, love
It's our turn to try
Parked beside the ocean
On our moonlight drive...
Bebo a música em tragos longos.
Como que a eternizar a momentaneidade
do conteúdo.
Voo por prados verdes, sorvendo a brisa
das flores que dançam desconexas.
Caminho sobre as ondas, suaves,
que se diluem na
frescura aparente de um chão.
Mergulho em trapézios de vozes
que inspiram confusão.
Durmo sobre as mãos de um Deus.
Menor.
Lanço-me em espiral sobre a
profundidade de um céu nu.
Imagino. Sonho. Existo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2005

E assim acontece... no outro lado do mundo

Hoje, em Tóquio, um fabricante japonês de roupa interior feminina, apresentou um novo soutien, que pode ser aquecido no microondas. Objectivo: proteger as mulheres do frio do Inverno!!
Aceitam-se apostas sobre as próximas invenções!!

5 coisas para fazer...



(e que me deixam com um sorriso prolongado nos lábios)

Ir a um bom concerto.

Ver o nascer do sol.

Receber um olhar especial.

Acordar e verificar que ainda há algumas horas para continuar a dormir.

Tomar um banho de espuma, à luz das velas

(e porque não acompanhado de

um copo de vinho ou champagne?).

Pobre princesa rica

Ao ler uma reportagem na revista Sábado desta semana tomei consciência da importância de situações sobre as quais, até ao momento, nunca tinha pensado.
A infanta Leonor do nosso país vizinho, filha dos princípes das Astúrias, terá, obrigatoriamente, formação militar (passando por todos os ramos das Forças Armadas - Exército, Marinha e Força Aérea). Tirará um curso superior nas áreas da política, economia e relações internacionais. Falará várias línguas. A sua ama será, à partida, inglesa. Etc., etc., etc.
Isto dá que pensar. Por um lado, uma criança, desde o seu nascimento, tem um rumo traçado, pré-definido por terceiros e devido a uma questão de linhagem, ou o que lhe queiram chamar. Por outro lado, não existirá aqui a violação de vários direitos fundamentais, tais como a liberdade, a personalidade, a autonomia?
Que diferentes eram as princesas que povoaram a minha infância...
Que bom que é ser uma mera plebeia...

terça-feira, 8 de novembro de 2005

She says, hey babe
Take a walk on the wild side
She said, hey honey
Take a walk on the wild side

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

"A vida só se dá

a quem se deu."

Vinicius de Moraes

O meu tributo de hoje vai para...


CARLOS PAREDES

Porque, muito justamente, era chamado "o génio da guitarra portuguesa".

Porque os seus acordes perfuram-me a alma e expandem-se em minutos de prazer.

Porque, quando ouço a sua música, fecho os olhos e sou levada,

transportada por dedos sábios, a recantos que não ousava conhecer.

O que é que está a acontecer em França?

O que é que está a acontecer ao mundo?

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Publicitar

A maior parte da publicidade que passa nas nossas televisões é má. Francamente má. Mas dessa não vou falar porque não me merece o esforço.
Mas, excepção que confirma a regra, há publicidade que vale a pena recordar, (re)afirmar, (re)ver sempre que possível. Refiro-me à mais recente campanha da Caixa Geral de Depósitos, em que vários jovens nos 30 assobiam uma música surgida na sua outra juventude (a mais precoce). Belo exemplar!
É bem disposta, atinge facilmente o público-alvo e, fundamentalmente, fá-lo de uma forma muito positiva.
Eu, sempre que a vejo, dou comigo a dançar, a cantar (visto que não sei assobiar) e a ser invadida por um sentimento de doce nostalgia... Sim, porque também sou uma jovem nos 30...

quinta-feira, 3 de novembro de 2005


Sair de casa. Com o sol, quentinho, a mimar-me. Entrar no carro. Fechar a porta. Fechar-me do mundo. Com música. Percorrer a cidade, devagar, a sentir a sua alma. A anoitecer. Beber café. Ler. Escrever. Sentimento de paz. Doce serenidade...
Voltar. Percorrer a cidade. A amanhecer. Chegada. Doce serenidade... Sentimento de pertença do que não é meu. Calor. E um novo acordar...

Porque é que pessoas,

com vivências

tão IGUAIS,

se tornam tão DIFERENTES?

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Novidades do mundo animal

Segundo um estudo norte-americano publicado hoje, pela revista Public Library of Science Biology, os ratos apaixonados cantam para as suas fêmeas!!
Fantástico, não é? Imaginem... Tão lindo...
Já estou a ver a TVI a inventar um novo concurso!!

"Mais do que riqueza,

quero PAZ."

Ludovico Ariosto

Passagens

"Olhada de cima, aquela era uma bela visão para um homem que há quase um mês não se aproximava de uma mulher a menos de dez metros de distância. Mas ele foi irrepreensível: só olhou uma vez e só dançou com ela aquela valsa. Depois convidou também para dançar duas senhoras casadas de mais idade e reputação assegurada que nenhum homem, aliás, encontraria motivos para se sentir tentado a perturbar."

Miguel Sousa Tavares in EQUADOR