terça-feira, 24 de outubro de 2006

Aborto

A questão do aborto ou, melhor dizendo, da sua liberalização, volta a estar na boca da opinião pública. Novo referendo, do qual se espera resultar a maioria do sim.
Sou a favor da sua liberalização. E irritam-me um pouco os argumentos defensados por aqueles que não concordam. A sua frase fétiche - "Nós somos pelo sim à vida" (ou algo parecido) - enerva-me profundamente. Porque eu também sou pelo sim à vida. E não, não sou a favor do aborto, mas sim da sua liberalização, o que não é bem a mesma coisa.
O que mais me chateia, no meio de tudo isto é o cinismo. A hipocrisia. Porque ao liberalizarmos o aborto não estamos a incentivar a sua prática. Apenas a permitir que as mulheres o façam em segurança.
Os defensores da moralidade e dos bons costumes são pelo sim à vida. E em relação às mulheres que morrem devido à prática de abortos clandestinos, já não o são? E em relação às mulheres que ficam com mazelas para o resto da vida que não lhes permitirá voltar a ter filhos? Já não se coloca a questão do sim à vida?
Peço desculpa pela frontalidade mas O ABORTO EXISTE! Quer seja ou não aprovada a sua liberalização.
Não será melhor, então, pararmos de enfiar a cabeça na areia?

3 comentários:

Seamoon disse...

enfiar a cabeça na areia é mesmo a frase mais correcta para determinar a hipocrisia e os falsos moralimos deste pais...
subscrevo.

bjs

jomaolme disse...

Concordo!!
Chega de hipocrisia!!

Beijokas

n disse...

Olá!
Mas liberaliza-se porquê? Com que critério? Porque as mães são pobres? mal informadas? têm uma vida difícil?

Tudo bem. Mas então que se despenalize (ou liberalize, para não usar o eufemismo) também quem roube porque é pobre, quem viole porque foi violado em criança, quem cometa crimes por ser alcoólico ou drogado.

Eu concordo, acho que mais importante, profundo e ambicioso do que penalizar será recuperar, recuperar a pessoa. Porque se a pessoa comete determinados crimes é porque se perdeu algures no caminho da (sua) humanidade e o que temos a fazer é recuperá-la.
Lá por isso não posso deixar de achar que matar é um crime.

A mulher que faz um aborto, não está a matar ou desfigurar a sua barriga, da qual é dona, mas uma vida, ainda dependente da mãe sim (como qualquer criança e como qualquer humano é dependente de outros humanos para ser humano), mas uma vida autónoma, uma pessoa.

O que me faz comichão neste debate é que não entendo, de facto, a preocupação de quererem despenalizar o aborto e não, também, outros crimes cometidos como consequência de situações sócio-económicas problemáticas. Faz-me desconfiar da bonomia de quem defende a liberalização.

Das duas uma: ou se contesta o sistema penal português, a nossa própria sociedade por não ser capaz de responder à necessidade de recuperar socialmente tanta gente ou mesmo prever e impedir situações sociais precárias (nisto eu alinho); ou então liberaliza-se incondicionalmente (seja por uma mulher desesperada, seja por capricho de uma mulher informada mas irresponsável) um caso específico de homicídio, o aborto.

Sim não devemos penalizar/condenar as pessoas, mas não devemos também, por isso, fechar os olhos e aceitar qualquer que sejam os seus actos, mesmo que sejam criminosos.

Pode haver muitas atenuantes e histórias de vida que justifiquem qualquer acto, mas um crime é crime por si só e não conforme a capacidade da sociedade de lidar com ele.
Faz lembrar os professores que dão as notas conforme o grupo de alunos que têm e não de acordo com o valor e capacidade individual de dominar determinados conhecimentos que o aluno possui.

Abraço