terça-feira, 15 de maio de 2007

(Des)confiança

Cada vez mais desconfio das pessoas muito dadas a determinada religião. Daquelas que a cada frase incluem um Ai Meu Deus ou Nossa Senhora, daquelas que vão à missa vezes sem fim, daquelas que dizem o Senhor está contigo, daquelas fazem jejum não sei quantas vezes por ano, daquelas que frequentam sessões, missões e outras comunhões. Cada vez mais desconfio de clérigos, freiras, papas e afilhados. Desconfio...
Há pessoas que têm preconceitos contra os pobres, os ricos, os pretos, os estrangeiros, os bonitos... eu tenho contra os religiosos, independentemente da religião. Porque me soam a falsidade. Que abomino desesperadamente.
Tenho tentado lutar contra este preconceito. Mesmo. Tenho tentado convencer-me a mim própria a manter o equilíbrio, que sempre defendo. Quando, em muitas outras situações, me dizem que determinada classe é assim ou assado, respondo sempre que alguns não podem comprometer o todo. Que não há regras sem excepções. Etc, etc., blablablá, blablablá...
E agora vejo-me a meter todos (ou a grande, grande maioria) no mesmo saco. Um saco sujo mas sempre perfumado de lavanda barata.
Ontem, este preconceito aumentou um bocadinho mais: tendo de apanhar um autocarro cuja fila era imensa, vejo um homem a, descaradamente, ultrapassar a pessoa que está atrás de mim, e depois a mim própria, colocando-se mesmo à minha frente como se não existisse mais ninguém. Quando o confrontei, pedindo-lhe educadamente para voltar ao seu sítio de origem, explicou-lhe que não me tinha visto. Ainda estive tentada a perguntar-lhe se sofria de alguma deformação visual, mas consegui combater a minha vontade de lhe partir a cara (eu sei que isto é conversa de gajo, mas é o que me apetecia fazer-lhe).
Mais tarde, já sentada no meu lugar, vejo o mesmo senhor, sentado à minha frente mas no banco oposto, a ler, inicialmente, a Bíblia e, logo depois, um livro sobre o Santo Agostinho. Deu-me um acesso de raiva tão grande... Coitadinho, tão religioso, tão bonzinho que ele é...
Como é possível não desconfiar?

4 comentários:

António Conceição disse...

Bem, comecemos por dar conta de algumas reservas que merece o seu post: o homem podia estar a ler a Bíblia e Santo Agostinho e ser completamente ateu. Suponho até que os ateus são dos maiores leitores da Bíblia que há. E eu, que sou agnóstico, conto santo Agostinho entre os meus mestres.
Quanto ao resto, subscrevo (indevidamente, claro) os seus preconceitos.
Eu, acima de tudo, tenho cuidado com os tipos que em Dezembro, em vez de me desejarem feliz Natal como toda a gente, me desejam "um santo Natal". Fico logo de pé atrás...

bonifaceo disse...

Por acaso independentemente das acções da pessoa, não gosto de expressões do tipo que referiste, "ai meu Deus" por exemplo.
Eu não entro nesse tipo de preconceito, mas se tiver que criticar esse tipo de gente critico, mas normalmente e regra geral têm "podres" que se não notam são burros, porque só rezar e depois fazer uma data de acções desse tipo e dizerem que não matam e não roubam logo não pecam... pá, isso é ignorância enquanto praticantes. E acima de tudo critico a Igreja.
Já agora, nas missões acho que já não terás assim tanta razão, considero essas pessoas vulgares, e continua a ser das melhores acções que os católicos praticam.

Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues) disse...

Tenho lido, e irei continuar a ler, a Bíblia e Santo Agostinho. Apesar disso, não ultrapasso ninguém nas filas dos autocarros nem me armo em esperto na caótica confusão do trânsito de Lisboa. Confesso que não sou perfeito, tenho sentimentos religiosos e respeito os sentimentos dos outros.

Sou politeísta, mas devo explicar o que entendo por tal. Os politeístas como eu, que não têm igreja, profetas, dogmas, padres, culto, nem livros sagrados, aceitam os deuses de toda a gente mesmos os daqueles que, como eu, não têm deuses - os ateus. Sou ateu (sem deus) mas não sou antiteísta (contra deus) porque como expliquei sou politeísta. Mas devo esclarecer que, devido ao facto de me assumir como politeísta, sou antimonoteísta.

Em suma, acho que devemos ser tolerantes, até com os monoteístas, mas não podemos aceitar o proselitismo monoteísta, princípio do egoísmo esquizóide e tribalista, motor permanente da guerra entre os povos (sobretudo entre aqueles que se reclamam seguidores do deus único e que seguem loucos como Bush, Ratzinger ou Bin Laden).

Quanto aos livros, prezo-os todos como património partilhável de toda a humanidade: basta de autos de fé! Não gostaria que a Cidade de Deus tivesse o mesmo destino das estátuas de Buda no Afeganistão. Além de que as fogueiras libertam gases de estufa e contribuem para um pesadelo tão medonho como o monoteísmo: o aquecimento global.

O problema desse senhor é uma doença que está infelizmente a espalhar-se na nossa sociedade a um crescimento geométrico, o "como se não existisse mais ninguém", como disse e muito bem. Tenho reparado que as pessoas estão a tornar-se transparentes e algumas acabam mesmo por se tornarem invisíveis. Mas isso é assunto que não cabe num comentário.

Por isso convido-a a interpelar-me também no meu blog se estes assuntos a interessarem.

Sol disse...

Funes, eu sei que o meu post é (propositadamente) exagerado. Mas eu tinha de pegar com o homem por qualquer ponta... E naquele momento, fiquei profundamente irritada.

Boni,não me referia a esse tipo de missões e admiro muito as pessoas que a elas se dedicam desde que, lá está, não o façam para que os outros os "idolatrem" por isso.

Perdido, se calhar também sou politeísta! :) Não sei muito bem... Em relação aos livros, remeto para o que respondi ao Funes.